James Rosenquist, 1960




com o sol e a lua bailando em Leão, aos 6 anos vivi plenamente, depois me confundi, conheci o fantástico, tornei-me impura, enlouqueci, enxerguei os meus olhos verdes, fui fazer a vida, pisei em Vênus, perdi o chão, andei pelas estrelas, me virei em contos, e descobri a própria sorte. Hoje, só engulo o que for orgânico e só penso em me exibir.


ouvidos

pés e poesia

segunda-feira, novembro 23

O psiquiatra.

J.Rosenquist



_ Como é o teu nome?
_ Celimena
_ De quê?
_ Lafaiete
_ Quantos anos?
Não entendia por que razão aquela secretária insistia em lhe fazer tantas perguntas, se sabe que terá que respondê-las novamente quando estiver junto ao médico. Com certeza deve ser para ficar olhando para a sua cara grande, que goteja lágrimas sem parar. Cara de problema. Cara de louca.
_ Pode aguardar ali, no sofá amarelo.
Vira-se e enxerga uma porção de caras ferradas olhando para ela. Faz cara de quem não viu. É chamada para entrar.
_ Boa tarde.
_ Oi
Lá está ele, aquele médico quase albino. Com cara de quem não é daqui e que olha por cima dos óculos. Senta-se à sua mesa, e pede para que ela se sente à sua frente.
_ Qual é o teu nome?
_ Celimena.
_ Quantos anos?
_ Vinte e cinco
_ Você tem dinheiro para pagar as outras consultas?
_ Hã?
_ É que não adiantará nada eu te atender, se depois desta consulta você não tiver dinheiro para continuar a terapia.
_ Ah! Tudo bem...
_ Então vamos nos sentar naquelas poltronas.
Confortáveis. Uma ao lado da outra. Para olhar o interlocutor, é preciso virar a cabeça. Celimena se vira, e chora.
_ Eu tive uma crise ontem
_ Hum...
_ Não durmo direito. Emagreci sete quilos. Os meus seios não são mais os mesmos. Não consigo levantar da cama quando acordo.
_ Então você definhou! Os seus peitos murcharam!
_ Não é bem isso... Só emagreci muito.
_ E não levanta porque não quer! Deixe a janela aberta durante a noite! De manhã o sol baterá na tua cara. Não há quem não levante assim!
_ Mas eu tenho muito sono também. É muito forte. Um desânimo incontrolável...
_ Você quer que o sono acabe antes de você levantar? Eu também queria! Mas eu levanto, eu levanto! E a tua família?
_ Eles estão tentando me ajudar. Gostam de mim. Coitados...
_ Coitados por quê? Você que é uma coitada!
_ Olha, ô Celina, eu vou te receitar um livro de Baudelaire!
_ Tá. Escreve o nome para mim em um papel.
_ Está aqui ó!
Celimena vai embora, mas volta.
_ Você trocou o meu nome ontem.
_ É? E então, vai continuar o tratamento, ou não?



de ontem

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